22/06/2011
Campus Anápolis

Artigo – 22.6.2011

POR QUE SER PROFESSOR?

Juscelino Polonial
jpolonial@ig.com.br

Foto: Eduardo Coelho
juscelino polonial
Juscelino Polonial é professor do
curso de Pedagogia da UniEVANGÉLICA

Os cursos da área de licenciatura, responsáveis pela formação dos professores da educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, há muito tempo vem sofrendo para manter os alunos, do ingresso à conclusão do curso. A evasão é muito grande. É bem verdade que ela é maior no setor privado, mas acontece também nas instituições superiores da rede pública, tanto nas estaduais, quanto nas federais.

O quadro da educação brasileira não é animador. Hoje o Piso Nacional de Salário para os professores da rede pública é de R$ 1.187,97, muito baixo para um profissional qualificado, que tem que trabalhar 40 horas semanais. Mesmo assim, é bom registrar que alguns gestores não querem pagar nem esse valor, inclusive acionando a Justiça para não cumprir a Lei nº 11.738, de 17 de julho de 2008, que instituiu o Piso.

Por outro lado, o professor da rede privada nem esse amparo legal possui. Depende de uma hora-aula, ficando à mercê de uma oscilação de mercado para ter o seu salário. É uma situação que gera profunda tensão no professor, pois não tem clareza de quanto vai ser o seu salário de um semestre para o outro. É uma instabilidade horrorosa.

Outra situação que deixa o professor com profunda angústia é o relacionamento com o aluno, principalmente na cultura criada na educação brasileira de que não se pode mais reprová-lo. Primeiro é importante dizer que a lei não diz nada disso. Se um aluno não tiver nota e/ou freqüência, ele pode ser reprovado sim. O que existe é uma pressão política para melhorar os índices de governo para fazer campanha de melhoria da educação.

Essa história de melhorar índice tem um caso famoso recente, quando a LDB de 1996, a Lei 9.394, aprovou a década da educação, que terminou em 2007, dizendo que nenhum professor poderia estar em sala de aula sem a formação adequada, ou seja, a diplomação em licenciatura pelos institutos de ensino superior. No desespero para cumprir a legislação, a formação de muitos professores foi feita às pressas e muitos certificados foram conseguidos onde a qualidade é altamente questionável. Embora não tenhamos conseguido cumprir a meta de 100%, avançamos bastante. Hoje temos muito mais professores certificados nas salas de aula. Os números melhoraram, mas e a qualidade desses professores e, consequentemente, do ensino ministrado?

Por isso que, hoje, muitos professores reclamam que os alunos estão chegando na segunda fase do ensino fundamental e não sabem nem ler e nem escrever com clareza. Parece que alguma coisa se perdeu no processo da alfabetização na fase mais importante da formação escolar.

Esses são apenas alguns apontamentos da crise da educação brasileira. Mas contrariando a realidade, muitos jovens ainda buscam a carreira do magistério, embora bem menos do que a duas décadas. E por quê? Fiz essa pergunta para alunas do curso de Pedagogia, no qual ministro as disciplinas Filosofia da Educação e Política Educacional Brasileira. É um curso basicamente feminino. Sem identificação, elas responderam a uma única pergunta: Por que ser professora? O maior número de respostas veio do aspecto afetivo: essas alunas querem ser professoras para ajudar pessoas no seu crescimento intelectual. Não são inocentes, já que elas reconhecem a crise no setor educacional, mas preferem acreditar que ainda podem fazer a diferença para as crianças. Outras falaram que seria gratificante ensinar a uma criança as primeiras letras, a alfabetização, porque isso marcaria a vida delas para sempre.

Pelo que se viu nas respostas dessas alunas, ainda há esperança de se fazer uma educação melhor no Brasil, basta que as políticas públicas para o setor sejam mais conseqüentes, que ouçam mais o professor, que sejam mais democráticas e que realmente envolvam o aluno. A educação é desenvolvida em sala de aula, na relação professor-aluno e não na burocracia. Temos que partir da sala de aula para realmente desenvolver uma educação de qualidade no Brasil, ancoradas em políticas educacionais que valorizem o setor e não sejam apenas discursos políticos vazios.