Artigo – 18.7.2011
Consequências do desmatamento para a saúde do homemItami Campos
O meio ambiente apresenta-se como um sistema e como tal deve ser entendido. Uma totalidade que envolve todos os elementos que o integram, ao mesmo tempo em que na interligação de seus elementos constitutivos reside o seu equilíbrio e manutenção.
Na Teoria da Gaia, apresentada pelo biólogo inglês James Lovelock, também o homem integra o todo da natureza numa harmonia vivida por muitos séculos. O desenvolvimento do capitalismo desde o século 16 foi condicionando como mudança de visão e a natureza tornou-se meio de produção - terra, capital e trabalho. E, desta forma, tem sido apropriada na busca humana e social do desenvolvimento alicerçada pela ideologia do progresso.A terra/natureza como meio de produção significou o uso intensivo de recursos naturais no processo industrial necessário e justificando a condição da manutenção do homem e de sua organização social. Contudo, esse uso intensivo terminou gerando desequilíbrio, levando a consequências não somente para a gaia/terra/sistema, como para setores e bioma.Pois bem. Não são ambientalistas que têm apresentado o efeito perverso do desmatamento, mas sim pesquisadores da área de saúde. Parasitologistas, epidemiologistas e outros pesquisadores desenvolvem estudos com "doenças emergentes" - muitas delas resultantes da intensa modificação do bioma natural levando mosquitos e outros hospedeiros a migrarem para outros hábitat, infectando animais e humanos com resultados danosos para a saúde pública. Também pela intensa migração humana do campo e da pequena cidade para as periferias dos grandes centros urbanos, numa ocupação desordenada e com baixa qualidade de vida.A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem trazido alertas para o que denomina "doenças negligenciadas", recebendo esse nome por não haver interesse no desenvolvimento de novos fármacos e nem investimento em pesquisa para a produção de medicamentos para seu tratamento, uma vez que não há retorno financeiro, pois são doenças que acometem principalmente pessoas de baixa renda. As seguintes parasitoses estão entre as "doenças negligenciadas": doença de Chagas, malária, hidatidose, cisticercose, fasciolose, filariose, onchocercose, esquistossomose, lagochilascariose e leishmaniose.Dados divulgados pela OMS mostram cifras alarmantes de portadores de parasitoses (doenças negligenciadas) no mundo - 1 bilhão de habitantes do Planeta com Ascaris lumbricoides ; 795 milhões com Trichuris trichura ; 740 milhões com ancilostomídeos e por aí vão as estatísticas, sendo que pelas bandas de cá a situação não se apresenta tranquila, a incidência delas no Brasil é grande e continua crescendo!Ressalte-se que uma destas parasitoses - a Leishmaniose visceral que há uns 40 anos era predominante do Nordeste brasileiro, está agora com sua incidência em cães e no homem não apenas na Região Nordeste, como também no Norte, Sudoeste e Centro-Oeste brasileiro e até com casos no Sul maravilha! Chamando a atenção sua alta prevalência no Estado de Tocantins. A construção de Palmas, o desmatamento acelerado, entre outras interferências no meio ambiente, fizeram com que o ser humano invadisse o hábitat do mosquito transmissor, daí a disseminação da parasitose que recebe a contribuição das precárias condições sanitárias.Nesta direção é que merece ser destacada a 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência realizada no Câmpus da UFG e que tem o Cerrado como temática. No evento, questões desta natureza alimentaram o debate científico.Itami Campos é doutor em Ciência Política (USP), professor do Mestrado em Sociedade, Tecnologia e Meio Ambiente e Pró-reitor de Pós-graduação, Pesquisa, Extensão e Ação Comunitária da UniEVANGÉLICA* Colaboraram: Dulcinéa Barbosa Campos, doutora em Parasitologia (USP), diretora do curso de Farmácia da UniEVANGÉLICAAlverne Passos Barbosa, doutor em Parasitologia (UnB), professor adjunto/Iptesp, UFG
Artigo publicado no jornal O Popular no dia 11.7.2011
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