23/11/2011
Campus Anápolis

Artigo

Oh! Culpem Wall Street!

Itami Campos

Em 1989, a velha “Cortina de Ferro” desmoronava junto ao Muro de Berlim. Perestroica e outros acontecimentos precederam da experiência russa de socialismo. O capitalismo se regozijava com o fim do comunismo, com o fim da “Guerra Fria” e blasonava a nova era do Capitalismo. Neste diapasão, o filosofo nipo-americano Francis Fukuyama anunciava o fim da história e, por tabela, da ideologia – era o ‘pensamento único’, a hegemonia do sistema capitalista e, por tabela, dos Estados Unidos da América do Norte.

Não restam dúvidas que os tempos eram outros. A polarização da Guerra Fria que embalara o mundo desde a Guerra da Coréia (1951), tornando tensas as relações entre USA e URSS, chegava ao fim.  As duas potências que se postavam, uma como defensoras do capitalismo (USA) e outra do socialismo (URSS), levaram o mundo à tensão, à disparada armamentista e, quase, à 3.ª Guerra Mundial.

Os novos rumos da antiga URSS que deixando de ser potência, tem seu território fracionado, e se torna emergente (BRICS), numa nova armação internacional. Mesmo a China, com experiência comunista radicalizada por Mao Tse-Tung na ‘revolução cultural’, caminhava célere para um capitalismo de estado, quebrando as distâncias que aproximavam sua economia com o mercado. Moderniza sua economia, cresce aceleradamente, passa a disputar o mercado mundial como 2.º PIB mundial.

Os comunistas e a esquerda perderam as referências e os rumos. São muitos os ensaios, da ‘nova esquerda’, maiores são as dificuldades apresentadas para modelarem o objeto de contraposição à ordem vigente. A ideologia deixava de ser mobilizadora e, sem marcar as diferenças, faz com que as posições políticas caminhem para um ‘centro’/ para a indiferença – quem é quem? Que os distinguem? Eis a questão, complicada para ser solucionada.

A direita ganhou? Pode ser. Também não tem rumos e nem propostas. Como não tem discurso, nem preparo, nem base de fundamentação, a direita tenta um discurso popular, mas sem vínculo orgânico com o povo. Também adota um nacionalismo, anti-imigração, aproximando-se de uma prática fascista. Neste quadro, cresce a apatia, floresce a anomia.

Embora as muitas guerras e mesmo as ‘primaveras’ do mundo árabe e de outros mundos, ao que tudo indica a ‘Era das Revoluções’ (Eric Hobsbawm) faz parte do passado... Não quer isso expressar um conformismo e a aceitação de uma ordem internacional moldada no ‘pensamento único’ e na hegemonia capitalista. Tem sido muita a mobilização numa perspectiva de contraposição ao modelo de globalização capitalista.

O Fórum Social Mundial, em suas muitas versões, indica a tentativa de uma ação global, buscando alternativas à ordem capitalista hegemônica e que tem na ideologia do progresso o seu fundamento e no lucro o seu modus operandis. Na mesma direção, vemos crescer uma movimentação política, pipocando aqui e alhures – ora contra a forma imperialista que o capitalismo tem se manifestado, especialmente na sua forma de dominação financeira, ora contra formas de dominação ‘locais’- no Brasil, busca espaço o movimento anticorrupção. O inconformismo apresenta-se contundente na busca de direitos (A Era dos Direitos, Bobbio) e na procura de alternativas para a sustentabilidade do planeta.

Nesta direção, não deixa de ser instigante pensar nas formas de manifestação que ocorrem nos Estados Unidos da América e que tendem a ser copiadas mundo a fora – ‘ocupe Wall Street', especialmente. Faz meses, o Zuccatti Park em Nova Iorque tem sido ocupado por milhares de ‘indignados’ que permanecem em barracas, virando até ponto turístico! Pois é, prá que!

Parece uma nova forma do movimento hippie, só que numa crítica à forma de dominação econômica e à forma como o Estado, diante da crise, passa a socorrer o sistema financeiro, grande vetor da acumulação de capital, sendo que outros setores não merecem a mesma atenção... A partir de então outras cidades norte-americanas passaram a ter idênticas manifestações.   

Todo esse movimento não apresenta uma estrutura, parece mais espontâneo (anarquista, às vezes), também não produz elementos orgânicos – partidos ou estruturas semelhantes, daí seus desdobramentos e também uma característica destas formas de mobilização. Isto que não dizer que não se apresentem importantes e que não tenham resultados.  

Itami Campos é cientista político, Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da UniEVANGÉLICA.
itamicampos@gmail.com

Publicado em 20/11/2011