09/04/2013
Campus Anápolis

Mestrado da UniEVANGÉLICA organiza livro surpreendente sobre a História Ambiental

09.04.2013

0123545História Ambiental: Fronteiras, recursos naturais e conservação da natureza, é este o título dado ao livro, com artigos organizados pelo mestrado da UniEVANGÉLICA em parceria com o Centro de Desenvolvimento Sustentável da UNB. Os organizadores, José Luiz de Andrade Franco, Sandro Dutra e Silva, José Augusto Drummond, e Giovana Galvão Tavares, deram ênfase a dezesseis artigos de grande peso e relevância no cenário da história natural.

Com a editoração da Garamond Universitária, fundada em 1997 com a proposta de abordar as grandes questões do nosso tempo, tanto como pesquisa acadêmica quanto sob a forma de divulgação e interlocução com o público em geral, sem abrir mão do rigor científico e da qualidade editorial, o livro passará a fazer parte da coleção Terra Mater, dirigida por Marcel Bursztyn, que enfoca as práticas sociais na sua relação com o meio ambiente. Abarca questões como a posse e o uso da terra, o desenvolvimento sustentável, a geopolítica, a agricultura familiar, entre outros assuntos.

O prefácio do livro é assinado pela investigadora doutorada do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra – Portugal, Stefania Barca, que também é co-coordenadora do Núcleo de estudos sobre 'Politicas sociais, trabalho e desigualdades' e do programa de doutoramento em 'Democracia no século 21'. Trabalhou em várias universidades italianas, onde lecionou História Econômica e Ambiental. Publicou uma série de artigos em revistas italianas e internacionais, e três livros. A sua última publicação, 'Enclosing Water. Nature and Political Economy in a Mediterranean Valley' (Cambridge, UK: White Horse Press 2010) recebeu o prémio Turku Prize como melhor livro em história ambiental europeia. Foi recentemente eleita vice-presidente da Sociedade Europeia de História Ambiental (ESEH).

No prefácio Stefania Barca, relata o conceito da natureza, a leitura fácil dos artigos, e se diz tentada a ingressar no estudo da História Ambiental Brasileira – “Mais de uma vez a leitura do texto induziu-me à tentação de deixar o meu próprio trabalho de investigação para me lançar no estudo da história ambiental das florestas, sertões, cerrados, rios e praias do Brasil, e estou certa de que este livro terá o mérito de convencer mais estudantes, investigadores(as) e quaisquer outras pessoas com interesse pela história deste país para empreender a mesma viagem”. Escreveu a autora em seu prefácio.

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Donald Worster e Sandro Dutra no Simpósio Brasil/Estados Unidos em História Ambiental
Rio de Janeiro, 2013.

De acordo com o Coordenador do Mestrado da UniEVANGÉLICA e um dos organizadores do livro, Sandro Dutra e Silva, o livro foi publicado com verba de fomento da FAPEG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás, "Esta parceria com a FAPEG tem sido fundamental para o fortalecimento e apoio no desenvolvimento do Programa, uma vez que tem apoiado o intercambio de professores, a participação em eventos nacionais e internacionais e principalmente na publicação de qualidade e com distribuição em território nacional". O livro conta ainda com um artigo de grande renome, assinado por Donald Worster, da Universidade do Kansas, um dos criadores da história ambiental. Segundo Sandro, Ciências e Humanidades precisam andar juntas.

O artigo de Donald Worster, devidamente traduzido e publicado no livro, relata a natureza e a desordem da história. O Professor Worster ao longo de sua carreira já escreveu vários livros, incluindo, The Wealth of Nature , Under Western Skies , Rivers of Empire , Dust Bowl: The Southern Plains in the 1930s , Nature's Economy , and A River Running West: The Life of John Wesley Powell. Ele é o ex-presidente da Sociedade Americana de História Ambiental e membro da Associação de História ocidental, a Organização dos historiadores americanos, e a Associação Americana de História. Ao longo de sua carreira, lecionou extensivamente na Europa, África, Ásia e América Latina, bem como na América do Norte. Worster está interessado principalmente no emergente campo da história ambiental, mudando a percepção da natureza, o aumento da conservação e ambientalismo, mas especialmente os caminhos que o mundo natural tem impingido na sociedade humana e forneceu o contexto para a vida humana ao longo do tempo. Ele também tem fortes interesses em história comparada (especialmente EUA e Canadá), no regionalismo americano (particularmente a Oeste), na agricultura e em ciência e tecnologia. Considerado um dos fundadores das principais figuras no campo da história ambiental, Worster em 2009, foi nomeado para a Academia Americana de Artes e Ciências.

Em entrevista recente ao Jornal O Globo, Donald Worster mostra a relação entre a era dos descobrimentos e o aquecimento global, como pode ser percebido em trechos da entrevista descritos abaixo.

Como a natureza influencia a História?

A natureza, incluindo não apenas plantas e animais, mas também micro-organismos, vermes, vírus, recursos naturais, ou seja, a natureza em todas as suas dimensões, tem um grande impacto na vida humana. Se não temos água, temos um problema. Mas se temos água demais também. Muitos desastres são provocados pela natureza. As epidemias têm um grande impacto na História. Mesmo as guerras podem ser provocadas por questões ligadas à natureza, como a escassez de recursos. A natureza é de onde viemos em termos de origem e não podemos escapar de sua poderosa influência. Muitas pessoas podem não perceber isso porque vivemos em cidades, cercados de tecnologia, e pensam que se trata de um mundo feito pelo homem, em que não há forças naturais. Mas, certamente, somos muito influenciados pela natureza. Não somos tão poderosos quanto pensamos.

Historiadores costumam separar natureza de cultura. Por quê?

Parte de uma longa tradição da Humanidade pensar literatura, filosofia, história como criações da mente humana e não como parte do mundo natural. Há o campo das humanidades e o das ciências. As ciências são com a natureza, as humanidades lidam com pessoas. Tendemos a dividir o mundo assim, não sei de onde vem isso, talvez da religião. E acho que isso nos cega para o fato de que as humanidades têm muito a ganhar compreendendo a natureza. E que há questões que não podem ser resolvidas só cientificamente.

O senhor citaria um exemplo?

As mudanças climáticas são um bom exemplo. A ciência explica o quanto de carbono está indo para a atmosfera, tem modelos para prever que vai acontecer, esclarece a dinâmica de todo o processo. Mas não explica por que queimamos combustível fóssil ou por que gostamos tanto de carros. Essas são questões culturais. E qualquer solução para o problema das mudanças climáticas vai requerer ciência, mas também compreensão da cultura humana e mudança social.

A história ambiental une os dois?

Comparada à história política e à história social, sim. Todos deveríamos ir à ciência em busca de dados, formar alianças, quebrar barreiras. Poderíamos ver o mundo de maneiras diferentes.

O senhor aplica a teoria da Evolução de Darwin à História. Como isso funciona?

Podemos falar de mudanças históricas como um processo de adaptação ambiental. Isso é bom para pensarmos por que fazemos as coisas de determinada maneira, por que criamos esta ou aquela tecnologia. Muitas vezes, estamos respondendo a algo. São adaptações à natureza ou a mudanças que nós mesmos fizemos no mundo. Então, tudo está evoluindo e mudando o tempo todo. É uma coevolução, uma coadaptação. A cultura não pode ser compreendida como a cor das penas de um pássaro ou os padrões comportamentais de formigas na floresta tropical; ela não é determinada pela genética. Mas não é uma coisa estática. Fazemos determinadas coisas porque o mundo em que vivemos está em constante movimento e precisamos sobreviver.

Parece, no entanto, que nos adaptamos mal. As mudanças climáticas seriam um boa prova disso, não?

Sim, de forma geral, parece que muito do que fazemos é não adaptar. Ignoramos os padrões e os limites do mundo. Mas temos que aprender a nos ajustar ou estaremos sempre mal adaptados. Vamos mudar uma plantação de lugar ou construir muros em torno das cidades para manter o mar longe? Seria melhor pensar em energias alternativas, não? O fato é que vamos nos adaptar de uma maneira ou de outra, não há escapatória. Mas podemos fazer isso bem ou mal. Ou tão mal que as sociedades desapareçam — conhecemos exemplos do passado. Mas não sou tão apocalíptico, não acho que a Humanidade vai acabar.

Estamos perto do limite?

Isso veio de um livro lançado nos EUA em 1972 que foi um grande best seller e que levantava essa questão sobre como vamos ajustar economia, consumo, poluição, dinheiro e bem-estar. Questões que não desapareceram. E essa era começa com a descoberta da América por Cristóvão Colombo. É preciso lembrar que na Europa, na Idade Média, o capitalismo não era a forma dominante de pensar a economia, a agricultura era em pequena escala e havia uma grande noção de escassez e limites. A descoberta de uma grande quantidade de recursos naturais, como água e minérios, mudou profundamente sua forma de ver o mundo, o capitalismo, o comércio, os negócios em escala global. Vivemos na fronteira do novo mundo.

Essa era acabou?

Estamos alcançando um ponto em que todos dizem que essa era acabou. Não haverá outra América, outro Brasil. A Lua não vai servir, nem Marte. Isso é normal, a História é feita de ciclos, embora muitas pessoas tenham problemas para se ajustar. Os economistas têm mais dificuldade, mas mesmo eles já estão falando em economia ecológica, economia ambiental. Temos que pensar em soluções, em como viver num mundo de limites.

Podemos voltar a modelos antigos?

Não será um mundo como no passado, com pequenas vilas, cosmologia religiosa e sem revolução científica. Não vamos voltar a isso. A História não volta. Mas podemos ter ecos do passado, talvez vivermos em comunidades menores, descobrir novas formas de energia, usar o conhecimento científico e tecnológico que adquirimos ao longo dos anos para criar um novo tipo de cultura, que seja compatível com o meio ambiente.

O Mestrado da UniEVANGÉLICA tem outros editais aprovados e novas publicações serão lançadas ainda este ano, com previsão de novos livros financiados até 2015.