27.06.2014 por Rafael Batista
Presente na UniEVANGÉLICA, na manhã de hoje, 27, para uma emocionante e significativa palestra a Anapolina Ludhmila Hajjar (na foto ao lado do Reitor e Pró-Reitores da UniEVANGÉLICA) detalhou a sua forma de ver a medicina e as transformações que seus estudos a atividades tem resultado no País. Professora Associada do Departamento de Cardiopneumologia da área de Cardiologia Crítica da USP, Ludhmila é graduada pela UNB, teve a sua tese de Doutorado, sobre transfusão, considerada a melhor tese do Brasil em 2011; foi premiada como a professora mais jovem da Faculdade de Medicina da USP em 2012, em 2013 também foi eleita a primeira mulher que coordena a Pós-Graduação da mesma faculdade. Fortemente atuante nas áreas de pesquisa, a médica já publicou 69 trabalhos científicos e é investigadora principal de 39 projetos de pesquisa.
Destaque por ser inovadora, dedicada e considerada uma das melhores profissionais do País, Ludhmila relatou durante mais de uma hora as suas melhores experiências, e reproduziremos alguns dos principais momentos de sua fala:
"Eu jamais deixaria a UTI e meus pacientes para ficar somente atuando nas pesquisas e na vida acadêmica, a chama maior é você poder exercer a palavra chamada compaixão durante as 24h do seu dia. Compaixão é você ter o sentimento e a vontade de aliviar um sofrimento de uma pessoa que está perto de você. E isso é ser médico."
"Eu gostaria muito de deixar um chamado, que vem desde o início da Medicina no mundo. O primeiro médico já não era somente médico, ele era arquiteto, escultor e ele que fez uma das pirâmides do Egito, demonstrando então que a Medicina vai muito além de uma ciência Cartesiana-Matemática... Logo depois Hipócrates descreveu a arte de ouvir o paciente, a primeira pessoa que descreveu a história Clínica, e devemos a ele o ensinamento de ouvir o paciente e extrair dele o máximo de informações possíveis, e este é um fenômeno que nós não devemos deixar para trás. A tecnologia avançou muito, hoje os médicos querem atender o mais rápido possível, às vezes atendendo o celular sem olhar para o rosto do doente, escrevendo o receituário. Isso não é ser médico! A história clínica é a principal pista para o diagnostico e para a terapêutica."
"A Medicina é uma demonstração de poder, mas poder de levar a cura, poder de levar compaixão, é isso que eu entendo".
"É extremamente importante à expertise clínica, porque aí vem o feeling do médico, o sentir do médico, o examinar do médico, e focar nos valores do paciente. Existem pacientes que não querem ser submetidos a determinado tratamento, e não é por isso que eu, médica, tenho que dizer a ele, que ele só possui esta alternativa. Isso não é fazer medicina, pois existem alternativas terapêuticas e a terapia deve ser focada no paciente, jamais vá contra ao desejo dele. Use do seu conhecimento para convencer o paciente que aquela opção é a melhor, mas se ele não tiver convencido, não faça como médico. Foque no paciente".
"Infelizmente nosso País ainda não possui uma população suficientemente intelectual para que eu possa discutir abertamente, francamente de uma maneira global, aquela situação clínica e qual o melhor tratamento, e muita das vezes até a interromper o tratamento. Não foi investido na educação do nosso País que é o pilar da saúde, então não consigo ter essa conversa aberta, mas temos que começar isso em nosso País. Eu comecei isso em São Paulo, a colocar a família dentro da UTI e muitos sabem que nas UTI's que eu coordeno, não existe visita. Entra e saí da UTI a hora que quer, fica com o doente a hora que quer, vê o que quer. Pois quem não deve, não teme. O médico que não deixa o familiar ver o que ele está fazendo, ele possivelmente faz algo que o familiar não fica feliz. A família é parte do tratamento do paciente, e se médico não gosta de conversar ou ver família, você não deve ser médico".
"Focar no paciente e na família é um ponto fundamental para aplicar a nossa ciência, com o que é melhor para o cidadão".
"É uma obrigação nossa como médicos, professores e universidade devolver a sociedade, o que o ensino nos proporcionou. Se eu sou médica hoje, formada em uma Universidade Estadual, alguém pagou a conta, que é a sociedade. E eu preciso cuidar das pessoas para devolver isso, e ainda devo influenciar as novas gerações, pois se eu conseguir influenciar esses novos médicos, eu vou disseminar este conhecimento pelo Brasil, eu estarei cuidando dos pacientes".
"É necessário a internacionalização do conhecimento, que a língua inglesa seja fundamental no estudo, a Pós-Graduação que eu assumi, deve ser em inglês sim, e não pelo fato de eu não gostar do meu País, mas é preciso que a internacionalização esteja constante no aprendizado".
"A minha meta é salvar os pacientes, seja quem tem condição financeira, ou quem não possui nada, eu como médica destino os meus dias a salvar, meus residentes chegam e me falam: - Drª somente você consegue nos ajudar a conseguir tal medicamento ou equipamento. E eu me predisponho a ajudar, se tiver que pedir para Presidenta, para Ministro, para Governador, para quem for... Pois estamos aqui para lutar e fazer o melhor para nossos pacientes".
"Eu me considero uma médica melhor a cada dia quando eu aprendo com os doentes, com os alunos, com os residentes, e inúmeras vezes do meu dia eu peço a Deus para me dar sabedoria e inteligência para que eu possa fazer algum procedimento da melhor forma".
Dentre tantas falas, a Drª Ludhmila Hajjar apresentou um estudo feito por ela recentemente sobre transfusão de sangue, em que observou que mais de 50% dos pacientes eram transfundidos na UTI, pois os médicos achavam melhor, ficaram preocupados ou acharam mais seguro, e não havia embasamento científico que indicava a necessidade de transfusão. A transfusão considerada um dos cinco procedimentos mais realizados no mundo, não possui nenhuma evidência científica para demonstrar o contrário. O estudo demonstrou que os efeitos colaterais da transfusão eram inúmeros. A pesquisa pioneira no mundo foi publicada na Jama, uma das três principais revistas médicas do mundo e citado em um Editorial como uma nova evidência no tratamento de pacientes operados do coração. De acordo com a Drª Ludhmila, foi apenas uma observação clínica que foi transformada em uma pesquisa, que não foi gasto nenhum valor e salvo inúmeras vidas. Esse trabalho mudou o entendimento da transfusão de sangue no mundo.
"É necessário hoje a medicina P4, que acabou de ser publicada, que se resume em a Medicina preventiva, preditiva, personalizada e participatória. Esse é o futuro da medicina, a prevenção. Só conseguiremos melhorar a qualidade da medicina no País integrando a Universidade, a Industria e a Comunidade. É responsabilidade nossa formar um médico comprometido com o paciente, com compromisso na evolução da medicina e que ao longo da sua jornada desenvolva a compaixão, que faz parte do nosso dia-a-dia". – finalizou a palestrante
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